Poema Meu - Mais-Valia Pra Quem?


Sobre os calos em minhas mãos —
Eles não importam.
E o suor que escorre da testa?
Também não é relevante.
O que conta é o que minha tração garante:
O produto do meu esforço — isso sim, é importante.

As horas que me restam
Estão contadas.
E mesmo quando o corpo adoece,
É melhor bater o ponto.
As esteiras continuam girando,
Folga só vem quando o corpo cessa de vez seu confronto.

Mesmo que eu tenha forças,
Nunca me deixarão ser mais.
Lá no topo vivem os que têm jantares em bandejas —
Gente que nunca viu calos ou jamais soube o que é suor em excesso.

Serei apenas o que minhas mãos produzem.
Por mais que me doa, por mais que eu tente,
Jamais serei dono de mim.
Sempre serei posse. Deles. Permanentemente.


por Afonso Baldez

Comentários

Postagens mais visitadas