Poema Meu - Água Fria



Ainda rastejo atrás de calor.
Minha ânsia é pela carne.
Não peço mais — pois, a mim,
De prazer não é dado nada.

Que eu me resolva com esse fogo
Que me consome.
Que eu suma, ou assuma...
A não ser que o outro esteja com fome.

Aí, sou carne, pão e leite,
Para qualquer que seja o deleite.
Aí, sou fruta,
Para qualquer que seja o desfrute.

Não sou um estrangeiro,
Mas percebo a fronteira entre nossos corpos.
Sou visitante habitual, ordinário,
Roupa velha esquecida no armário —
Serve apenas para o conforto,
Para o aconchego do sono.

Queria cessar essa vontade,
Apagar esse incêndio,
Presentear esse anseio.

Ter em minhas mãos,
Entre meus lábios,
Os teus seios.

De tudo que minha memória lembra,
É o corpo que mais sente.
Sente a falta.
Ele anseia —
E a ceia
É este balde de água fria.

por Afonso Baldez

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