Poema Meu - Súplica


Me confessei para o espelho hoje,
Para um homem velho,
Muito mais velho do que este corpo-confesso.
Pois o tempo que ele atravessou,
Hoje quem atravessa é este cúmplice-reflexo.

Rugas no rosto, magreza no corpo,
Cabelos faltando, olhar vivido —
Não mais vívido.

O medo nos preenche por completo,
Não o da aceitação dos dias passados,
Mas da impossibilidade dos dias futuros.

Ansiamos espiar por cima deste muro,
Ver o que nos aguarda,
E se o tempo irá guardar aquele fragmento de vida
Em segurança —
Para nossa alegria, nossa esperança.

Minha e deste reflexo velho,
Deste velho reflexo.

Pois Ela ainda é jovem,
Cheia de vida e de tempo,
E com certeza permanecerá após a nossa partida.

Por favor, imploro-lhe,
Seja o juiz quem for —
O tempo ou a vida —
Permita-me dar adeus ao meu eterno amor.
Nos permita a possibilidade da despedida.


por Afonso Baldez

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